Lendas do Sporting: Malcolm Allison
Big
Mal, como ficou conhecido em Inglaterra, era um homem de grande carisma, e foi
um dos melhores treinadores ingleses da sua geração, sendo que provavelmente só não
chegou mais longe, devido ao seu carácter rebelde e à forma desmedida como se
entregava aos prazeres da vida, como as mulheres, o álcool e os charutos.
O
jovem médio centro Allison começou a jogar futebol no Erith & Belvedere
antes de em 1945 assinar pelo Charlton Athletic, onde jogou até Fevereiro de
1951, quando foi contratado pelo West Ham United por 7000 libras.
Poucos
meses depois de chegar ao West Ham, Allison tornou-se no Capitão da equipa, mas
reza a lenda que era muito mais do que isso, pois para além de ser um líder
forte e respeitado no balneário, tendo chegado a comandar uma revolta dos
jogadores por causa dos pagamentos de prémios de jogo, tinha uma enorme
influência sobre o Manager Ted Fenton, e diz-se mesmo que era ele que fazia a
linha, dava as tácticas e mandava nos treinos.
No
dia 16 de Setembro de 1957 Allison sentiu-se mal depois de um jogo com o
Sheffield United, e descobriu-se que tinha tuberculose. Teve de ser operado e
foi-lhe extraído um pulmão. Nessa época o West Ham ganhou o Campeonato da 2ª
Divisão de Inglaterra, e na obra "The Essential History of West Ham
United" Allison é apontado como um visionário que revolucionou o clube em
seis anos, e como o grande responsável por essa subida à 1ª divisão.
Mesmo
sem um pulmão, Allison ainda voltou a jogar pelas reservas do West Ham e mais
tarde pelo Romford nas ligas amadoras, tornando-se depois vendedor de
automóveis e jogador profissional de cartas.
Começou
por ser treinador na Universidade de Cambridge, antes de em 1963 assumir o
comando do Bath City. Depois teve uma curta passagem pelos Estados Unidos, mas
regressou a Inglaterra para treinar o Plymouth.
Em
1965 Joe Mercer tornou-se no Manager do Manchester City e decidiu contratar um
assistente jovem, ambicioso e enérgico, escolhendo Malcolm Allison que
conhecera nos cursos de treinador que ministrara. Foi sob o comando desta dupla
que o City viveu o melhor período da sua história, subindo à 1ª Divisão e
conquistando um Campeonato, uma Taça de Inglaterra, uma Taça da Liga, uma
Charity Shield e uma Taça das Taças.
Assim
foi com naturalidade que Allison assumiu o comando do City após o abandono de
Joe Mercer, mas só ficou um ano, seguindo depois para o Cristal Palace, onde
também deixou a sua marca apesar de uma descida de divisão, conseguindo atingir
as meias finais da Taça de Inglaterra na época de 1975/76.
Mais
tarde passou pela Turquia e ainda regressou a quase todos os clubes que tinha
treinado anteriormente, até que João Rocha o foi buscar a Inglaterra.
Chegou
a Portugal em Maio de 1981 e logo na sua primeira temporada ganhou o Campeonato
e a Taça de Portugal, conquistando também a simpatia dos adeptos,
principalmente devido ao futebol de ataque que implementou, numa equipa onde
brilhavam os consagrados António Oliveira, Manuel Fernandes e Jordão, o que não
o impediu de apostar em jovens como Carlos Xavier e Mário Jorge.
Para
além disso Allison era uma personalidade fascinante de quem se contam algumas
deliciosas histórias relacionadas com a sua rebeldia e imprevisibilidade, que
muitas vezes chocaram um País de brandos costumes e hábitos bastante
conservadores.
No
Verão de 1982, quando decorria o estágio de pré-temporada na Bulgária, Malcolm
Allison foi despedido pelo Presidente João Rocha na sequência de alguns
excessos em que era pródigo, e que geraram grande instabilidade e indisciplina
no grupo, sendo então substituído por António Oliveira que assumiu as funções
de treinador-jogador.
'Big
Mal' voltou então às divisões inferiores inglesas para treinar o Middlesbrough
por duas épocas, viajando depois até ao Kuwait onde orientou a Selecção durante
um ano.
Regressaria
a Portugal em 1986 para trazer de volta à 1ª divisão o Vitória de Setúbal, com
uma equipa recheada de jogadores que tinham sido campeões no Sporting na época
de 1981/82. Teve ainda uma curta passagem sem grande sucesso pelo Farense.
Depois
de uma paragem viria a encerrar a sua carreira de treinador na época de
1992/93, ao serviço do Bristol Rovers, mas desde então o seu estado saúde
entrou em declínio, e acabou por ser internado num lar para idosos que sofrem
de Alzheimer.
O
ex-técnico dos leões faleceu aos 83 anos, a 15 de Outubro de 2010, após uma
vida de excessos.
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