Vitor Damas partiu há 14 anos



Passam hoje 14 anos do desaparecimento de Vítor Damas

Damas foi um dos melhores guarda-redes portugueses de sempre. Ágil, felino, elástico, destemido e elegante, marcou uma era no Sporting, tornando-se num mito e no jogador que mais vezes envergou a camisola do Clube, com 456 jogos oficiais pela equipa principal, tendo disputado ao todo 743 jogos durante a sua longa carreira.

Começou a jogar no Sporting com 14 anos, estreando-se na baliza num "derby" de principiantes contra o Benfica. O Sporting perdeu e o jogo correu-lhe bastante mal, pelo que saiu lavado em lágrimas. Mas não desistiu e um ano depois, ainda com 15 anos já estava na equipa de juniores, pela qual se sagrou Campeão Nacional, numa altura em que também jogava na Selecção Nacional daquele escalão. Nessa altura, Damas, que chegou a querer ser avançado, ficou fascinado com uma fotografia que estava na famosa Porta 10A por onde entravam os jogadores: "O Carlos Gomes era o guarda-redes a que era suposto eu vir a suceder. Havia uma fotografia dele, de boné, a fazer uma defesa em grande estilo e sempre que eu passava - o balneário dos juvenis era para o lado direito - ficava a olhar e pensava 'vou ver se um dia consigo fazer uma coisa destas'."

Chegou à equipa principal do Sporting com 19 anos, estreando-se em Avalade a 12 de Fevereiro de 1967, num jogo que o Sporting empatou 2-2 com o FC Porto, embora só se tenha fixado como titular duas temporadas depois, destronando Carvalho. Nessa altura foi distinguido com o Prémio Stromp na categoria Atleta Profissional do ano de 1969.

Tornou-se então no indiscutível dono da camisola n.º 1 durante oito temporadas, chegando a Capitão da equipa. Nesse período foi duas vezes Campeão Nacional, conquistou três Taças de Portugal e foi semifinalista da Taça das Taças.

Para a história do futebol português ficaram os seus duelos com Eusébio, sendo lendária uma excepcional defesa para canto a um remate de cabeça daquele avançado do Benfica, num derby a contar para o Campeonato de 1969/70, que o Sporting ganhou por 1-0. Nas suas próprias palavras, "essa defesa foi importante porque permitiu que ganhássemos por 1-0 e conquistássemos o título de campeões nacionais. O Eusébio veio cumprimentar-me e foi assobiado pelos adeptos do Benfica".

Outro feito memorável de Damas aconteceu no dia 3 de Novembro de 1971, quando o Sporting recebeu o Glasgow Rangers, em jogo a contar para a 2ª mão da 2ª eliminatória da Taça das Taças, que terminou com a vitória dos Leões por 3-2, o que igualava a contenda. Jogou-se então um prolongamento, com mais um golo para cada lado, seguindo-se os pontapés da marca da grande penalidade. Então Damas defende os penaltis todos para nada, porque nessa época tinha entrado em vigor a regra dos golos fora, que no entanto o árbitro desconhecia.

Nessa altura Damas já era o titular da Selecção A, na qual se estreou num jogo particular contra o México, disputado no Jamor no dia 6 de Abril de 1969, tirando o lugar a Américo, o guardião do FC Porto. Mas apesar de ser claramente o melhor guarda-redes português da altura, teve de alternar a titularidade da equipa das quinas com José Henrique do Benfica.

Inesquecível foi também uma exibição de Damas em Novembro de 1975, num jogo disputado em Wembley a contar para a fase de apuramento para o Europeu de 1976, em que Portugal empatou a zero com a Inglaterra, e onde apenas uma serie de espantosas defesas do nosso guardião, evitou que o massacre a que os ingleses sujeitaram a Selecção portuguesa resultasse numa goleada.

Após o 25 de Abril com o fim da Lei da Opção, o FC Porto de Pedroto atacou o Sporting, levando Alhinho e Dinis, e já corriam rumores de que Damas atraído por um ordenado de 100 contos por mês, ia seguir o mesmo caminho. O que é certo é que João Rocha não conseguiu renovar o contrato com Capitão da equipa, acabando por resolver o problema chegando a acordo com o Santander e o jogador, evitando assim a sua passagem para o rival do norte.

Pedroto é que não perdoou o recuo de Damas, e deixou de o chamar à Selecção, de que na altura era o responsável técnico, em acumulação com as funções de treinador do FC Porto. Desterrado num pequeno clube espanhol o ex guarda-redes do Sporting foi esquecido, e Bento ganhou o lugar na baliza da Selecção Nacional.

Em Espanha, Damas chegou a ser cobiçado pelo Atlético de Madrid, mas o Racing não o quis vender, pelo que findo o seu contrato ele regressou a Portugal para jogar no V. Guimarães e finalmente trabalhar com Pedroto, voltando então a vestir a camisola das quinas.

Dois anos depois passou para o Portimonense, onde encontrou Manuel José que o trouxe de volta ao Sporting, onde jogou mais cinco temporadas, concluindo a sua carreira no dia 27 de Novembro de 1988 com 41 anos, num jogo disputado no Estádio do Fontelo em Viseu, onde o Sporting empatou 2-2 com o Académico local.

Entretanto voltou a fazer parte das opções dos seleccionadores nacionais, tendo estado presente no Europeu de 84 em França, onde não foi utilizado, e no Mundial de 86 no México, onde encerrou a sua carreira de internacional, defendendo as balizas de Portugal em dois jogos de má memória para todos nós, substituindo Bento que se havia lesionado gravemente num treino, totalizando assim 29 internacionalizações entre 1969 e 1986, uma longevidade que nenhum outro futebolista português atingiu.

Em Fevereiro de 1989 foi promovido a treinador e orientou a equipa do Sporting em três jogos, assegurando a transição entre Pedro Rocha e Manuel José, de quem passou a ser adjunto, e que um ano depois substituiu interinamente até à chegada de Raul Águas, de cuja equipa técnica também fez parte, o mesmo acontecendo no primeiro ano de Marinho Peres.

Após um interregno, regressou ao Sporting para ser o treinador dos guarda-redes, função que desempenhou durante três temporadas, até à chegada do italiano Giuseppe Materazzi, altura em que passou a trabalhar na Equipa B.

No dia 6 de Abril de 2003 numa cerimónia que antecedeu um jogo do campeonato, o Sporting homenageou Vítor Damas por ter sido o jogador que mais vezes envergou a camisola do Sporting, e que mais vezes jogou no relvado do Estádio José Alvalade.

 

Viria a falecer vítima de cancro, a 13 de Setembro de 2003, quando tinha apenas 55 anos, não sem antes ter realizado o seu último sonho, que foi o de assistir à inauguração do novo estádio do Sporting, integrado no Complexo Alvalade XXI: "Quero estar na inauguração do novo Estádio e, se isso acontecer, posso morrer feliz".

No dia 27 de Julho de 2009, o Sporting imortalizou Vítor Damas, atribuindo à baliza sul do Estádio José Alvalade o nome do guarda-redes que mais vezes representou o Clube.

A 27 de Março de 2015, dia em que foi colocada a primeira pedra do Pavilhão João Rocha, foi inaugurada a Rua Vítor Damas, transversal à Rua José Travassos.

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